Mural

domingo, 11 de maio de 2008

Fiéis ficam 'órfãos' de padre

Morando há 12 anos juntos e pais de dois filhos, o casal Ingrid Martins, de 28 anos, e Vítor César Alvarez, de 30, resolveram oficializar a união neste sábado. Freqüentadores da Paróquia São Judas Tadeu, no Rocha, em São Gonçalo, eles escolheram celebrar a união na comunidade por causa do padre José Osmar, mais conhecido como Dé, para ter a garantia de uma cerimônia inesquecível. Com o afastamento do pároco, eles e outros casais lamentam a ausência do sacerdote em um dos dias mais importantes de suas vidas.
"Escolhemos a igreja por causa do padre Dé, freqüentamos as missas e já temos uma relação de amizade com ele, que já conhece a nossa história. Se não fosse por isso, teríamos escolhido uma igreja mais tradicional, como a Matriz de São Gonçalo, por exemplo", lamentou o noivo.
Segundo Ingrid, ela se assustou quando foi à igreja pegar o nome completo do padre para levar ao cartório e descobriu que seu casamento não seria realizado por Dé.
"Comecei a chorar. Queria muito que ele estivesse lá. Não conheço o padre Ademar, mas para mim, não encontrar o padre Dé no altar daqui para a frente será um choque", afirmou a noiva.
O casal contou que, passado o choque, ficaram mais tranqüilos com relação à substituição. Mas não esconderam que a esperança de que padre Dé presidisse a cerimônia durou até a última hora.
De acordo com uma funcionária, que preferiu não se identificar, são realizados dois casamentos por sábado na Paróquia São Judas Tadeu, um pela manhã e outro no início da noite. Ela contou que as datas são agendadas com exatos seis meses de antecedência e que algumas noivas chegam a dormir na fila para garantir a marcação.
"A noiva da manhã chorou muito porque é amiga do padre e ele acompanhou toda a história do casal, desde o namoro. Mas depois acabou se conformando", disse a funcionária.
Decisão motivada por desentendimento
Segundo membros paróquia, o afastamento do padre Dé teria acontecido em virtude de um desentendimento com a prefeita de São Gonçalo, Aparecida Panisset.
"Disseram que a prefeita havia prometido uma secretaria a alguém ligado à Igreja e a melhoria para o entorno do Rincão do Senhor – espaço onde Dé celebra algumas missas. Como ela não teria cumprido, ele teria rompido com ela. Aí a prefeita teria pedido ao arcebispo de Niterói (dom Alano Maria Pena) o afastamento dele da igreja para não influenciar os fiéis nas eleições", contou Vítor César.
Em nota oficial, a Arquidiocese de Niterói informa "que a Igreja não é partidária e que não assume qualquer papel contra ou a favor de qualquer partido". Segundo a nota, após conversar com o padre e esclarecer alguns fatos, o arcebispo de Niterói, dom Alano Maria Pena, resolveu conceder ao sacerdote um "tempo sabático", a seu critério.
Durante a missa do último domingo, dia 4, no Rincão do Senhor, dom Alano informou a comunidade que não houve pressão de ninguém para o afastamento do padre Dé, e externou ao sacerdote seu apoio ao trabalho pastoral e o incentivou a retomar seu trabalho, caminhando com a comunidade.
A prefeita Aparecida Panisset, através de sua assessoria, ratificou que nunca houve desentendimento com o padre Dé, e nem mesmo fez qualquer tipo de discriminação aos fiéis que participam do Rincão.
"A nossa relação com a Igreja é de cordialidade e parceria, exemplificada pelo apoio às festas de Corpus Christi e com as programações das paróquias do município. Essa polêmica toda não existe e ele sempre foi muito importante em São Gonçalo. Ele é um homem de Deus e espero que ele volte logo", disse a prefeita.
Padre Dé está em Arraial do Cabo, na Região dos Lagos, e não foi possível localizá-lo para comentar o caso.
Related Posts with Thumbnails