Larissa Lima
Salto alto, maquiagem, batom, saia e...cadeia. O aumento do número de mulheres envolvidas com o tráfico de drogas em São Gonçalo é alarmante, garantiu o delegado titular da 74ª DP (Alcântara), Fábio Barucke. Na última semana, ele mostrou a O FLUMINENSE um levantamento realizado pela distrital que revela um sombrio registro: só nos três primeiros meses deste ano, cinco mulheres foram presas em flagrante por envolvimento com a venda de entorpecentes na área sob jurisdição da distrital. Nos 365 dias do ano passado, seis mulheres haviam sido capturadas.
A estatística, apresentada por Barucke no mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, foi elaborada pelo Setor de Investigação da delegacia. Para eles, a presença do "sexo frágil" no tráfico de drogas é uma espécie de estratégia de atuação dos marmanjos criminosos, que tentam se aproveitar de rostos femininos e angelicais para passarem despercebidos. Entretanto, Barucke alerta que a Polícia Civil está de olho nessas "táticas". Para o delegado, as mulheres estão classificadas em três perfis: a varejista, que vende a droga em pequena quantidade; a que é influenciada pelo marido, quando ele já tem envolvimento com o comércio de drogas, e assim acaba interagindo; e a que apenas cuida da logística, centrada nas questões financeiras do tráfico. Porém, o consumo de drogas entre as mulheres também é outro forte fator que faz com que elas busquem meios ilícitos para sustentar o vício.
Há poucos dias, outro flagrante envolvendo uma mulher foi registrado na 74ª DP (Alcântara). Desta vez, Joana Dantas da Silva, de 19 anos, foi quem engrossou as estatísticas dos investigadores. Ela foi presa depois de ter sido surpreendida por agentes do 35º BPM (Itaboraí) em sua residência. Segundo denúncias, ela estaria fazendo do seu imóvel um refúgio de traficantes do Morro do Alemão, no subúrbio do Rio.
Quando os PMs chegaram à casa, a encontraram sozinha e com um bebê de apenas oito meses. Depois que a casa foi revistada, os agentes encontraram, além de maconha e cocaína, um revólver calibre 38. As drogas e a arma estavam escondidas numa bolsa junto com fraldas e outros pertences do menino.
"As mulheres que são presas, geralmente, estão envolvidas afetivamente com traficantes, mas já podemos perceber que muitas estão tentando agir sozinhas na quadrilha", contou o delegado, acrescentando que as mulheres que constam no levantamento têm entre 20 e 30 anos, e estão desempregadas.
Década de 70: a transição
Para o psicanalista e professor de psicologia aposentado da Universidade Federal Fluminense, Dalcy Ângelo Frontanive, o número de mulheres envolvidas com o tráfico de drogas vem aumentando desde a década de 70, quando simultaneamente aconteceram grandes transformações na vida da mulher.
"Elas tiveram mais acesso às informações. Entravam no mercado de trabalho e apresentaram livre acesso às drogas lícitas (cigarro e bebidas alcoólicas)", destacou Dalcy, acrescentando que tais mudanças foram responsáveis pela inserção da mulher no comércio ilegal de drogas.
Dalcy, que estuda e trata em seu consultório, em Ipanema, Zona Sul do Rio, o envolvimento de homens e mulheres no tráfico de drogas, diz que o sexo feminino se envolve no tráfico mesmo sendo de classe média, alta ou viver na pobreza.
"Quando a mulher é de classe média, geralmente começa a traficar depois que passa a consumir droga. Em pouco tempo, começa a repassar para amigos. Já as de baixa renda assumem o papel por influência de companheiros, em envolvimento emocional", revela o psicanalista, acrescentando que essa última são chamadas de "boi de piranha", uma espécie de alvo para polícia.
Sustento – Nas classes menos favorecidas, Dalcy diz que a droga preferida pelas mulheres para consumo é a maconha, por não ser tão destrutiva quanto outras. Ainda segundo o psicanalista, as mulheres em condições finanaceiras precárias entram para o tráfico e encaram como um "trabalho". Elas utilizam o dinheiro, muita das vezes, para o sustento de filhos.
PF: número é alarmante
Segundo as estatísticas da Polícia Federal, que realizou o levantamento junto com o Departamento de Narcóticos de São Paulo e Ministério das Relações Exteriores, mais de dez mil mulheres já foram presas no Brasil por tráfico de drogas. O levantamento apontou que elas passaram a ser recrutadas pelo tráfico no final da década de 80, e logo no início dos anos 90, a prisão de mulheres nos aeroportos se tornou constante. Agentes lotados na delegacia da PF no Aeroporto Internacional Tom Jobim, na Ilha do Governador, Zona Norte do Rio, afirmam que um levantamento realizado no fim do ano passado constatou que está aumentando o número de mulheres tentando embarcar com entorpecentes ingeridos, nos fundos de malas e em cintas presas ao corpo.
Para eles, essas mulheres que são chamadas de "mulas" - ganham dinheiro apenas para transportar drogas - são aliciadas pelo tráfico por passarem mais credibilidade quando embarcam. Segundo os investigadores, são mulheres bonitas, com idades entre 19 e 51 anos, e que geralmente aceitam a "missão" por desejarem o dinheiro, que sempre é atrativo. "Elas aceitam o trabalho por acharem que não correm risco de serem percebidas. Cerca de 80% das mulheres presas dizem que não sabiam dos reais riscos de transportarem drogas ilícitas", revelou um policial, que preferiu não se identificar.
Os índices do estudo, ainda segundo o agente, apontam que cerca de 65% das mulheres que foram presas pela Polícia Federal entre os anos de 1990 e 2007 são "mulas". E com as últimas prisões, os policiais identificaram que outros esconderijos estão sendo utilizados, entre eles instrumentos musicais, cocaína dissolvida no gesso e em bebidas.
O Fluminense
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