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quarta-feira, 5 de março de 2008

Deputada é recordista em nomeação de 'fantasmas'

Levantamento identificou sete pessoas que foram lotadas no gabinete de Jane Cozzolino sem saber. Vítimas eram levadas de Kombi
Alfredo Junqueira e Mahomed Saigg

Rio - O gabinete 107 do edifício anexo da Assembléia Legislativa do Rio pode ser considerado uma espécie de casa mal-assombrada. O escritório ocupado pela deputada Jane Cozzolino (PTC) reúne a maior quantidade de funcionários fantasmas no esquema de desvio de recursos do auxílio-educação. Levantamento feito por O DIA em diários oficiais identificou até agora sete pessoas de origem humilde, residentes no município de Magé, que foram nomeadas sem saber no gabinete da parlamentar. Depoimentos das vítimas do esquema revelam que os aliciadores usavam até uma Kombi para fazer o transporte dos ‘fantasmas’ à agência bancária em Piabetá, onde eram abertas as contas- salários. No entanto, eles nunca receberam os cartões do banco, e as senhas tinham que ser repassadas aos assessores de Jane. A recompensa pelos documentos assinados era de R$ 350 por mês para cada vítima. “Fui levado junto com outras pessoas numa Kombi até o banco, onde assinei vários papéis porque me disseram que eu tinha direito a uma ajuda de custo para meus filhos. Eles (os aliciadores) ficaram com o cartão e agora me cortaram sem avisar”, contou, inconformado, o padeiro Silvano Corrêa de Araújo, 47 anos.

’SALÁRIO’ DE R$ 3 MIL

Nomeado na liderança do PTC, partido da deputada, no dia 14 de março do ano passado, Silvano foi exonerado seis meses depois, no dia 8 de outubro, sem nunca ter pisado no prédio da Alerj. De acordo informações repassadas por funcionários do Departamento Pessoal da Alerj, ele ocupava um cargo comissionado nível 5, cujo salário passava dos R$ 3 mil.Assim como Silvano, as donas-de-casa Maria Gorete dos Santos Silva, Sandra Santana Montenegro e Tamara Alice Albuquerque Maia, 26 anos, também contaram ter participado do ‘Bonde da Jane’ — apelido dado aos grupos de moradores de Mauá, distrito de Magé, que eram transportados de Kombi pelos aliciadores. “Vocês não podem estar falando sério. Não dá para acreditar que aquelas pessoas foram capazes de nos enganar desta maneira. Estou até meio tonta com essa notícia. Nunca desconfiei que podia estar caindo numa armação. Eles (os aliciadores) pareciam ser tão sérios”, destacou Tamara. Mãe de quatro filhos com idades entre oito meses e 9 anos, ela vive de favor com o marido, que é topiqueiro, na casa do sogro.


NOMEADA DUAS VEZES


O caso de Maria Gorete é curioso. Mesmo sem saber, ela foi nomeada no gabinete de Jane em 28 de feveireiro do ano passado, exonerada em 8 de outubro, novamente nomeada no dia 7 de dezembro e ainda estaria lotada no gabinete da deputada.O DIA ligou para o celular pessoal de Jane, falou com dois assessores e não obteve resposta da parlamentar. O escândalo das nomeações fantasmas estourou depois de denúncias de vítimas do golpe à Delegacia de Defraudações. O Conselho de Ética da Alerj já abriu investigação contra Jane e mais seis deputados estaduais.


Altineu diz que ex-servidora não tinha auxílio


O deputado Altineu Cortes (PT) negou qualquer participação no esquema de nomeação de funcionários fantasmas na Assembléia Legislativa. Alegando que sua ex-funcionária Keila Maria Rangel Gomes Vieira jamais recebeu quantia relativa ao pagamento de auxílio-educação, o parlamentar afirmou que vincular seu nome a irregularidades é injusto. “Friso que meu gabinete não é suspeito de nada, tanto que não está sendo investigado por nenhuma autoridade constituída. Nem mesmo a presidência da Alerj me incluiu nos processos que estão sendo abertos pela Comissão de Ética”, ressaltou, em nota. Segunda-feira, Keila Maria disse que jamais havia trabalhado no gabinete de Altineu, apesar de estar consciente de sua nomeação. Na ocasião, o deputado argumentou que o marido de sua funcionária, identificado como Marcelo Amendoin, era quem trabalhava para ele.Altineu apresentou ontem dois projetos de resolução com o objetivo de regular a concessão de benefícios na Alerj. Em um deles, sugere que os funcionários passem a declarar se são beneficiários de programas sociais, como o Bolsa Família, que estabelece teto de renda mensal per capita de R$ 120 e no qual Keila Maria está inscrita.


Fonte: O Dia on line

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