Caridade. Este é o novo tratamento prescrito na rede básica de saúde em São
Gonçalo. Nesta terça, a prefeita Aparecida Panisset sancionou no Diário Oficial
uma lei criando o programa "Dose uma vida", incentivando a população a doar
remédios e equipamentos médicos para a cidade. Com dinheiro em caixa para compra de medicamentos - mais de R$ 5,7 milhões,
segundo a lei orçamentária anual de 2010 -, o secretário de Saúde, Daniel da
Silva Júnior, disse que não precisa de ajuda alheia, mas não a dispensa.
Nesta terça, a aposentada Dionízia Nazareth, de 80 anos, tentou pela terceira
vez pegar uma caixa de captopril, para controlar a hipertensão, no posto do
bairro Porto Novo. Como das outras vezes, saiu de mãos vazia e teve de comprá-lo
na farmácia vizinha:
- Sempre peguei o captopril neste posto de saúde. Nas duas últimas vezes, fui
até lá, mas, como não havia, acabei comprando na farmácia que fica a 15 metros.
- Distribuímos 2 milhões de comprimidos de captopril por mês. Esse é um
medicamento que temos a obrigação de entregar nos postos - afirmou o secretário.
A lei é de autoria do vereador Fábio Farah. Pelo texto, serão aceitos
remédios e equipamentos "que não estão sendo utilizados por pessoas, farmácias e
afins", podendo ser doados e distribuídos a entidades assistencialistas, não só
pela rede municipal, mas também por estabelecimentos médicos. O vereador não foi
encontrado para falar sobre o programa.
- Só aceitaremos os remédios que tiverem a embalagem intacta, sem que tenham
sido violados. A sociedade pode participar suplementando as verbas do Sistema
Único de Saúde, mas não estamos pedindo nada. O que vier é bem vindo porque a
população é carente - disse Silva Júnior.
Segundo o secretário de Saúde, equipes municipais irão até os doadores. A
ideia não é apenas poupar o trabalho dessas pessoas, mas verificar como
armazenam os medicamentos:
- Esse é o nosso grande problema e também um assunto muito delicado.
Vamos
dar um recibo para quem doou em duas vias, com uma delas para o nosso
almoxarifado central, que distribuirá as doações pela nossa rede. Iremos aonde
estiver o doador e também vamos olhar como o medicamento está armazenado em
casa. Vamos avaliar o local e ver se estava guardado adequadamente.
A iniciativa de São Gonçalo foi duramente criticada pelo Conselho Regional de
Medicina e pelo Sindicato dos Médicos. Para as duas entidades, a medida
significaria um risco à saúde pública pela falta de garantia quanto à
procedência e à eficácia dos remédios.
- Essa política da mendicância farmacêutica não tem sustentação jurídica.
Sabemos que há denúncias de fraudes, de comercialização de remédios falsos. Essa
situação é absurda. É tratar o pobre com uma visão pobre. Não se pode
estabelecer uma política de assistência farmacêutica com produtos sem controle.
É uma situação absolutamente esdrúxula - disse o presidente do sindicato, Jorge
Darze.
- É uma tentativa de se resolver um problema que é deles pegando o povo para
isso. Você não sabe como esse medicamento foi armazenado. Apesar do prazo de
validade, há as condições de armazenamento, como refrigeração, exposição ao sol
e e umidade. Acho temerário fazer isso - afirmou o presidente do Cremerj, Luís
Fernando Moraes.
Quem procura o Posto de Saúde Municipal Getúlio Vargas, no Bairro Rosane,
para pegar uma caixa de 25 mg de atenolol, um remédio contra problemas
cardiovasculares, sai de mãos vazias. A droga está em falta na unidade. A
solução é atravessar a rua e entrar na farmácia localizada em frente ao posto e
desembolsar R$ 9 pelo medicamento.
- Até remédio contra verme não tem aqui, moço - disse uma funcionária do
posto de saúde, sem saber que estava falando com um repórter do EXTRA.
Na unidade pública não há antibióticos nem analgésicos. Captropil? impossível
encontrar. Até mesmo simples medicamentos como dipironas e cartelas de
paracetamol não são encontradas.
Não é uma situação isolada. No Posto de Saúde Municipal Barbosa Lima
Sobrinho, no bairro de Porto da Pedra, o desabastecimento também é generalizado.
-Tem antibiótico no posto? - perguntou o repórter do EXTRA.
-Não - respondeu uma funcionária.
-E analgésico? - prosseguiu o repórter.
-Também não - continuou a funcionária.
-Nem dipirona? - insistiu o repórter.
-Só gotas, para crianças - respondeu a funcionária.
-O que tem então? - perguntou o repórter.
- Quando a gente precisa, pedimos doações a laboratórios, e eles ajudam. Ou
alguma pessoa traz um remédio e nos dá, mas no dia seguinte já tem gente pegando
- contou a funcionária.
A situação é tão inusitada que o aposentado de 74 anos Joel Mattos da Silva,
que tem diabetes e pressão alta, mora em frente ao posto, mas não pode se valer
da distância:
- Fui lá recentemente pegar atenolol (contra doenças cardiovasculares), mas
me disseram que não tinha.
No bairro de Porto Novo, no Posto Haroldo Pereira Nunes, a carência é a
mesma.
- Na semana passada, peguei dois frascos de dipirona. Tinham poucos - contou
um morador.
Antero Gomes e Marcelo Dias - Jornal Extra
Antero Gomes e Marcelo Dias - Jornal Extra
1 Comentários:
Não foi o irmão dela que é o Secretário de Saude que esta envolvido no desvio de 200 milhões de Reais da sáude de São gonçalo? só para fazer um paralelo: isso dá aproximadment 100 milhões de doláres. Com 10 milhões de doláres, foi construída nos Estados Unidos a primeira nave espacial desenvolvida sem o aparato governamental chamada SPACESHIPEONE. CADEIA NELES!!!!
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